segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Capítulo 3. Kurt


- Eu fico aqui - diz Sam apontando para algum lugar me fazendo parar.
- Ok… - digo parando o carro - Te vejo amanhã!
- Até amanhã - diz Sam fechando a porta do carro e dando um sorriso de canto através do vidro. Que sorriso era aquele? Que companheiro de classe era aquele? Balanço a cabeça me afastando de meus pensamentos e a única coisa que desejo é minha cama.
Chego em casa rápido, pois a casa de Sam nem fica tão longe da minha, e despenco na cama e antes de perceber, eu já tinha pego no sono.
Acordo com alguém batendo na porta, provavelmente Kurt.
- E aí bela adormecida? - diz Kurt entrando enquanto eu coço meus olhos de tanto sono.
- Aconteceu alguma coisa?
- Não, estava sozinho em casa e resolvi passar por aqui, não gosto de ficar sozinho.
- Adoro companhias… Quer café, água? 
- Não precisa… - diz Kurt de cabeia baixa no sofá, não precisava nem perguntar pra perceber que ele estava triste.
- O que houve? - pergunto
- Nada.
- Kurt, você não está conseguindo disfarçar muito bem essa parte…
- É que eu tô me sentindo meio mal em relação a algumas coisas - diz cabisbaixo 
- Te dou todos os meus ouvidos.
- Não aguento mais o preconceito diário na escola, eu sou gay né, acho que já deu pra você perceber - diz ele soltando um sorriso amarelo. Sim, eu já havia percebido, sem querer ser racista ou algo do tipo, mas dava pra perceber, o jeito que ele se vestia e falava, o jeito que ele ficava quando passava algum menino atraente do seu lado, o jeito de que o povo da escola mantinha distância dele e o jeito que os marrentos do time de futebol o zombava. - Isso tá me sufocando, eu não sei mais o que fazer, queria tanto achar uma pessoa igual a mim, que goste de mim, que me trate do jeito que eu deveria ser tratado...
- Ei, ei, ei - o interrompi quando percebi que lágrimas se acumulavam em seus olhos. - O que tem de errado nisso? Kurt, eu te admiro muito, sabia?
- Pelo o quê? - pergunta ele com os olhos cheio de lágrimas.
- Pelo fato de você assumir quem você, de você encarar tudo isso de cabeça erguida, sem deixar ninguém mudar o que você realmente é, e a propósito eu só tenho que concordar com você. Eu imagino o quanto deve ser difícil pra você passar por tantos preconceitos, mas você não escolheu ser assim, simplesmente aconteceu, você não tem que se lamentar e ficar se preocupando com que as pessoas pensam ou deixam de pensar sobre o seu respeito. Você não precisa de ninguém na sua vida que não te queira por perto. - quando termino, Kurt já está quase soluçando em lágrimas e eu simplesmente o abraço fazendo-o desmoronar. 
- Posso dormir aqui hoje? - diz ele no meu ouvido em meio de tantas lágrimas.
- A hora que você quiser.
~~~~~*~~~~~
Acordo com Kurt me chamando e com uma bandeja nas mãos.
- O que é isso? - pergunto sonolenta
- Café da manhã, mocinha… - comemos juntos em meio de gargalhadas e fofocas. Ficamos falando quase uma hora do pessoal da escola, da reputação de cada um e nossas opiniões sobre todos.
- Sabe o Finn? - pergunta Kurt e eu fico pensando - Um alto que anda meio desajeitado e que está sempre do lado de Rachel…
- Sei! - digo me lembrando do garoto.
- Sou apaixonado por ele… - revela Kurt com um sorrisinho de canto.
-O-M-G! - são as únicas letras que eu consigo pronunciar. Kurt morre de rir com a minha expressão. - Apaixonado mesmo? Desde quando?
- Faz um tempo... nem eu sei como isso aconteceu.
- As vezes você acha que tá apaixonado, quer ocupar a sua cabeça com isso. Kurt, não precisa forçar a barra com essas coisas, na hora que tiver que acontecer, vai acontecer. Pode ser o tempo de convivência que você tem com ele, já pensou nisso?
- Pode ser, e afinal tem vários problemas: Além dele ser hétero e atual namorado da Rachel, ele é meu meio-irmão, nossos pais meio que se apaixonaram perdidamente a primeira vista e resolveram levar tudo a sério. - diz ele contando as características no dedo.
- E como você se sente sobre isso tudo?
- Eu… - começa Kurt tentando achar as palavras certas - Não sei… Eu simplesmente não sei. Sinto falta da minha família, de mamãe, da união… Mas sabe, agora é como se a minha família estivesse completa, mas não está, esse é o ponto. 
- O que o seu pai acha sobre sua orientação sexual? - pergunto antes de dar uma mordida na minha terceira torrada.
- Ele me aceita e me apoia completamente do jeito que eu sou, mas o problema é que não existe só ele no mundo.
- Eu te apoio também - Kurt fica olhando pra mim com os olhos brilhando - Temos que ir! - continua ele se desconectando totalmente do momento fofo e familiar.
~~~~~*~~~~~
Ando pelo corredor com Kurt e Rachel, que havíamos encontrado no caminho, ela não parava de falar do coral, de seus planos para as regionais, de seu relacionamento com Finn, o que deveria deixar Kurt pra baixo, de como ela adorava cantar. Apesar de ser uma tagarela quase insuportável, Rachel parecia ser uma pessoa legal.
- Vejo vocês no coral! - diz ela, finalmente, se despedindo.
- Meus tímpanos estão pedindo arrego - digo quando ela desaparece na multidão, Kurt apenas dá uma gargalhada. Enquanto passamos em frente em nossos armários, um brutamonte de mais ou menos 1,80 de altura, pesava mais de 120 kg empurrou Kurt enquanto passava para cima dos armários como se ele fosse um nada, nada mais que um nada. Não podia aceitar aquilo, já estava ficando vermelha de tanta raiva.
- Ei! - gritei, alto o suficiente para conseguir um pouco de silêncio e conseguir com que o ogro dê meia volta. 
- O que a novata acha que vai fazer? - diz ele se aproximando. Ele ameaça me dar um soco, mas meu reflexo é mais rápido e agarro a mão dele. - Além de bater em gays, também gosta de bater em mulheres? Quanta covardia! - meu tom de voz aumenta chamando a atenção de quem tá passando por ali.
- Cale a sua boca! Estou avisando - disse o gigante.
- Acho melhor você calar a sua boca e ouvir um pouquinho - digo ainda segurando seu punho. Até que enfim minhas aulas de muay thay em Nova Iork estão servindo para alguma coisa. Todos estão olhando pra mim, pro ogro e para Kurt nesse momento. - O que passa nessa sua cabeça de vento? Você acha que batendo em um gay te torna mais homem?! Sinto te informar que você está enganado.
- Cala boca sua novata metida. - o ogro consegue se soltar vai na direção de Kurt e empurra ele novamente. - E agora? Vai fazer o que? - diz ele me desafiando, meu sangue ferve e atinjo minha mão esquerda no seu olho esquerdo e quando ele cambaleia eu deu um chute entre suas pernas, fazendo-o gemer de dor. Acertei no ponto fraco.
Nesse momento todo mundo está olhando para mim e para o garoto no chão. Segundos depois, o professor do coral e uma mulher, com cabelos loiros curtos, e com um uniforme esportivo aparecem atrás de mim.
- Ora ora Will, parece que mais um de seus alunos resolveram se rebelar. Encrenca à vista. Boa sorte, meu amigo - diz a mulher abusada para o professos Will e dá dois tapinhas em suas costas antes de sair. Aquela mulher era outra que eu não suportava esbarrar, mas por um lado ela era das minhas, adora provocar e não se contenta com um segundo lugar.
- Srta. Alexis Carlsson, Sr. David Karofsky, Sr. Kurt Hummel
 e professor Will Schuester, acompanhem-me até a diretoria - diz o professor Figgns aparecendo do nada. Estou totalmente ferrada.

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