segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Capítulo 1. New Everything


Jogo a quarta latinha de energético pela janela e me concentro de novo na estrada. Era por volta das cinco horas da manhã e o rádio do carro estava no último volume, me impedindo de cair no sono. Estava quase chegando em Miami, quando o sol já queria aparecer. A claridade toma conta de minha visão e pego meus óculos no porta-luvas do carro. Meu destino era a casa da minha família que tínhamos em Miami, na parte mais nobre da cidade. O que eu estou fazendo aqui? Simples, eu simplesmente fugi de casa, não aguentava mais meus pais discutindo, estava na cara que eles não se suportavam mais, minha família vive de fachada, talvez seja a pressão de tanto status, conhecimento e dinheiro. Dinheiro é o que não falta na minha família e eu realmente não me importo muito com isso. Não passo nem metade do dia em casa e minha relação com meus pais não passa de um “oi, tudo bem?”. O status destruiu minha família, meus pais as vezes se esquecem que tem filhos. Sim, filhos, tem um irmãozinho de oito anos, Harry, por um momento até pensei em trazê-lo junto comigo, mas com certeza mamãe e papai iriam me impedir e além do mais, Harry é muito dependente de uma família ainda. 
Avisto população e urbanização, só dirigir mais um pouco, e chego em casa. Sentia saudades de Miami, minha infância foi praticamente toda aqui, perto de outros familiares e amigos de verdade. Até minha família se mudar pra New York e eu não suportar mais viver. Estou cada vez mais perto da vizinhança quando meu celular vibra e ascende, dou uma olhada pro banco do carona onde se encontra o mesmo. Uma mensagem. 
“Onde você está? Estamos preocupados e aponto de chamar a polícia. Dê-nos notícia. Nós te amamos. Mamãe.”
Chamar a polícia? Duvido muito. Se isso foi uma tentativa de tentar me trazer de volta pra casa, falhou. Minha família tinha muito mais coisas para fazer do que ficar se preocupando com uma filha rebelde. Talvez ela só estava fazendo seu papel de mãe, admiro, mas isso não me comove mais.
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Lar doce lar. Assim que abro a porta do apartamento duplex, sinto aquele cheirinho de móveis e casa abandonada. Jogo minhas malas perto do sofá e despenco no sofá. Estou com fome, vou pra cozinha e já estava adivinhando que não teria nada pra comer e quando abro a geladeira meus instintos são confirmados. Estou muito cansada pra sair pra fazer compras, então vasculho minha bagagem e encontro um saco de biscoito que havia trago para a viagem. Deito no sofá mais uma vez e adormeço assistindo televisão.
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Quando acordo já passa das nove da noite. Tomo um banho rápido, pego a chave do carro um pouco de dinheiro na bolsa e vou para um mercado qualquer. Chego lá e faço umas compras bem rápidas, compro o básico para passar a morar sozinha pelo menos por enquanto. Em menos de duas horas já estou em casa de novo. Arrumo as coisas na cozinha e me jogo no sofá para pensar no dia de amanhã. Provavelmente teria que me matricular em alguma escola e são nessas horas que o dinheiro te faz bem. Mas como faria isso? Ligaria para mamãe e diria: “Ah, oi, olha, não quero te falar onde eu estou, mas preciso que você me matricule em algumas escola, pois não quero olhar pra cara de vocês tão cedo então precisarei me distrair.” Óbvio que não… Penso mais um pouco e lembro do meu cartão de crédito. Pronto! Amanhã teria que acordar cedo para me enfiar em alguma escola.
Pego meu violão para me distrair mais e começo a tocar e cantar. Canto umas cinco músicas, bem alto, pois como dizem: quem canta os males espanta. Ouço um som de campainha mas acho que me engano, deve ser meu celular, procuro pelo mesmo, mas nada de notificações. Ouço o barulho de novo e confirmo que é a campainha. Como assim estão batendo na minha porta a uma hora dessas? Vou com toda tranquilidade até a porta.
- Oi, meu nome é Kurt - diz o menino com o jeito e a voz afeminada em minha frente.
- Pois não?! - retruco
- Não quero ser um vizinho insuportável, mas já passam das dez horas da noite e você está cometendo poluição sonora. Moro no andar de baixo. - Então era isso? Eu só não fechei a porta na cara dele, pois não queria dar uma de vizinha rebelde e antipática. 
- Perdão… - Dou uma pausa tentando lembrar seu nome.
- Kurt - completa. - Poderia saber seu nome? 
- Alexis.
- Nome diferente… Boa noite, Alex - Estou a ponto de fechar a porta quando uma voz me faz parar. - E a propósito, você não manda nada mal. - comenta Kurt tirando um sorriso do meu rosto.
- Obrigada! Boa noite… - digo quase corando e finalmente fecho a porta.
Realmente desisto do meu violão, meus dedos já estão doendo e os calos não são mais imperceptíveis. Vou pro meu quarto ainda cansada e me atiro na cama. Fico encarando meu celular pensando se devo responder ou não a mensagem de minha mãe. “Não se preocupe - Alex”. Envio. Ela não iria se preocupar mesmo, iria ler aquela mensagem como se eu estava do lado dela o tempo todo. Encaro o teto e adormeço pensando no dia longo de amanhã.

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